O Brasil marcará presença de forma significativa na 34ª edição do Festival Étonnants Voyageurs, em Saint-Malo, na França, entre os dias 7 e 9 de junho. A Festa Literária das Periferias (Flup) levará ao evento oito importantes nomes da literatura brasileira contemporânea: Bernardo Carvalho, Daniel Munduruku, Djamila Ribeiro, Eliana Alves Cruz, Geovani Martins, Itamar Vieira Junior, Jeferson Tenório e Marcelo Quintanilha. A delegação, que também inclui a cineasta indígena Graciela Guarani e o pianista Amaro Freitas, tem como missão mostrar ao público internacional a força criativa e plural da produção literária nacional, especialmente aquela que surge das margens.
O convite faz parte da Temporada Brasil-França 2025, que celebra os 200 anos de relações diplomáticas entre os dois países. Criado em 1990, o Étonnants Voyageurs é considerado um dos festivais literários mais relevantes da Europa, reunindo anualmente autores de diversos continentes para discutir literatura, cinema, direitos humanos e diversidade cultural.
A curadoria da Flup buscou reunir autores cujas obras renovam os debates sobre identidade, memória e resistência — temas que têm ganhado centralidade no cenário cultural brasileiro. A iniciativa reforça o papel da Flup como plataforma de internacionalização das vozes periféricas, mantendo viva sua trajetória iniciada em 2012 e já consolidada com prêmios como o Jabuti de Fomento à Leitura e o reconhecimento como Patrimônio Cultural Imaterial do Rio de Janeiro.
Para Julio Ludemir, diretor-geral da Flup e responsável pela curadoria brasileira no festival, a participação no Étonnants Voyageurs é também um gesto político e simbólico. “Não somos a Bienal, não somos a Flip. Temos outras digitais: falamos de território, de raça e de gênero. Vamos à França com essa identidade, com esses marcadores”, afirmou. O intercâmbio com a cultura francófona, inclusive, não é novo para a Flup, que desde sua primeira edição mantém diálogo com escritores da diáspora africana e do Caribe francês, como Martinica, Guadalupe e Guiana Francesa.
Djamila Ribeiro, que participa do festival lançando seu quinto livro em francês, destaca a importância de apresentar ao público europeu uma literatura brasileira diversa. “Cada um de nós escreve a partir de lugares diferentes, de abordagens diferentes. Não somos um país de uma só voz”, disse a autora de “Pequeno Manual Antirracista” e “Cartas para minha avó”, que desde 2019 tem desenvolvido um trabalho contínuo de divulgação de sua obra na França e em países francófonos da África e da Europa.
Já o escritor indígena Daniel Munduruku, autor de mais de 60 livros voltados principalmente ao público infantojuvenil, vê na participação uma oportunidade de ampliar o entendimento sobre a identidade brasileira e dar visibilidade à luta dos povos indígenas. Ele levará ao festival uma seleção de seus principais títulos, como “Meu avô Apolinário”, “Memórias de Índio” e “Um estranho sonho de futuro”. “A literatura é uma ponte entre mundos diferentes. Quanto mais falarmos sobre os povos indígenas, mais estaremos combatendo os preconceitos e estereótipos”, defendeu.
Além dos autores, o festival também receberá a cineasta Graciela Guarani, da etnia Guarani Kaiowá, que apresentará sua produção audiovisual sobre os saberes tradicionais dos povos indígenas, e o pianista Amaro Freitas, conhecido por sua fusão de jazz com ritmos afro-brasileiros, que fará um concerto no Grand Auditorium.
A presença brasileira no festival é mais um capítulo do esforço contínuo da Flup em conectar narrativas periféricas ao circuito literário internacional. Em 2025, a festa também participará de outros eventos relevantes fora do país, como o “West Indian Carnival”, em Leeds (Reino Unido), e o “Middle Ground”, em Berlim (Alemanha). A expectativa é de que, com essa visibilidade crescente, mais autores brasileiros de trajetórias plurais tenham acesso ao mercado editorial global e, com isso, contribuam para uma compreensão mais completa da diversidade cultural do Brasil.
Com Informações e foto da Agência Brasil