A exposição ‘8 de janeiro – Jamais fomos modernos’, do artista visual Alex Frechette, será inaugurada na Galeria de Arte do Forum da Cultura, em Juiz de Fora, na terça-feira, dia 12 de agosto, a partir das 18h30. A mostra, que já passou por cidades como Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo, apresenta uma série de quadros criados como forma de protesto diante dos ataques ocorridos em Brasília, no dia 8 de janeiro de 2023, quando manifestantes tentaram promover um golpe de Estado, destruindo patrimônios públicos e obras de arte modernistas nos prédios do Palácio do Planalto, Supremo Tribunal Federal e Congresso Nacional.
Durante a abertura, o artista compartilhará com o público parte do processo de criação das telas, suas inspirações e técnicas utilizadas. Também participarão do evento Paulo Roberto Figueira Leal, professor da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), e Fernando Perlatto Bom Jardim, professor do Departamento de História da UFJF, para um momento de discussão sobre política, história, sociedade, democracia e outras questões relacionadas à temática da mostra. O evento é gratuito e aberto ao público em geral.
Alex Frechette explora de forma singular os acontecimentos de 8 de janeiro, convertendo registros visuais da invasão em arte. “Peguei imagens da invasão em Brasília e usei os trabalhos de Di Cavalcanti como maior referência, estudando seus personagens e estilo. Seu trabalho ‘As Mulatas’ foi esfaqueado nesta invasão, por isso decidi me focar neste pintor e sua obra emblemática, que fala de um Brasil cheio de esperanças e que valoriza sua cultura”, relembra o artista. As obras são feitas com tinta acrílica, em tamanhos diversos, e apresentam cores intensas, traços marcantes e fundos que se misturam aos personagens retratados. As escalas dos quadros fazem referência às obras modernistas pensadas para grandes espaços arquitetônicos, especialmente a partir da década de 1950.
Entre os destaques da mostra está o mural ‘A Invasão’, com 5 metros de largura por 1,65 de altura, inspirado no estilo modernista muralista. A obra retrata pessoas fazendo selfies durante os atos, gerando provas contra si mesmas, além de indivíduos quebrando brasões, cadeiras do STF e quadros de presidentes anteriores. Também chama atenção a tela ‘Ataque aos Cavalos’, primeira da série, que mostra um cavalo sendo atacado nos olhos, ficando cego.
O título da exposição dialoga com a crítica do antropólogo e sociólogo francês Bruno Latour à concepção tradicional de modernidade, ressaltando que esta não é uma narrativa linear, mas um campo complexo de interações. As obras funcionam como janelas temporais para um passado recente, mostrando os ataques contra ícones modernistas como a tela “As Mulatas” de Di Cavalcanti, os azulejos e o muro escultórico de Athos Bulcão, a escultura da Justiça de Alfredo Ceschiatti e os prédios projetados por Oscar Niemeyer.
A exposição segue em cartaz até o dia 29 de agosto, com visitações gratuitas de segunda a sexta-feira, das 10h às 19h. Alex Frechette foi um dos artistas selecionados pelo Edital de Ocupação da Galeria de Arte do Forum 2025, cujo resultado foi divulgado no dia 28 de fevereiro.
O artista visual é doutor em Artes pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), mestre em Turismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF), especialista em Arte e Cultura pela Universidade Candido Mendes (UCAM), licenciado em Educação Artística pela UCAM e Instituto A Vez do Mestre (UCAM_AVM), e bacharel em Pintura pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Seu trabalho abrange desenhos, pinturas, objetos e vídeos, explorando elementos do cotidiano social brasileiro e seus desdobramentos, pulsões e tensões, com foco em história, memória, ativismos e processos poéticos contra-hegemônicos. Já realizou exposições individuais em cidades como Rio de Janeiro, Niterói e São Paulo, além de coletivas em espaços renomados como o Instituto Inhotim (MG) e em países como Colômbia e México. Recebeu prêmios da Fundação Nacional de Artes (FUNARTE), das prefeituras de Niterói e do Rio de Janeiro, e da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (ALERJ).
O estilo modernista muralista, presente na mostra, une o movimento modernista à técnica do muralismo, originado no México, que buscava levar arte às massas por meio de obras em espaços públicos com críticas sociais e políticas. No Brasil, artistas como Cândido Portinari e Di Cavalcanti adaptaram o muralismo à realidade nacional, utilizando-o para expressar temas sociais e refletir sobre a identidade do país. Atualmente, diversos artistas contemporâneos, como grafiteiros, continuam a utilizar os muros como suporte para expressar ideias e reflexões sobre a sociedade.
A Galeria de Arte do Forum da Cultura, localizada no segundo pavimento do casarão centenário da Rua Santo Antônio, 1112, Centro, é o espaço cultural mais antigo da UFJF. Criada em 1981, no reitorado do professor Márcio Leite Vaz, abriga exposições de artes plásticas, documentais e pedagógicas, com produções ecléticas que já atraíram mais de mil visitantes por mostra. Em janeiro de 2024, passou por reforma, com substituição das antigas placas de madeira por novas e renovação do sistema de iluminação, garantindo melhor estrutura para as exposições.
O Forum da Cultura está em atividade há mais de cinco décadas e promove manifestações artísticas diversas, abrindo espaço para artistas iniciantes e consagrados divulgarem seus trabalhos. O endereço é Rua Santo Antônio, 1112 – Centro – Juiz de Fora. Mais informações podem ser obtidas pelo site www.ufjf.edu.br/forumdacultura, pelo e-mail forumdacultura@ufjf.br, pelo Instagram @forumdaculturaufjf ou pelo telefone (32) 2102-6306.
A exposição de Alex Frechette propõe uma reflexão sobre os riscos enfrentados pela democracia brasileira e sobre como a arte pode ser instrumento de memória, crítica e resistência. Ao unir política e estética, o artista convida o público a revisitar os acontecimentos de 8 de janeiro de 2023 e a pensar sobre os impactos desses atos na sociedade contemporânea.
Da redação do Jornal Panorama
Com informações e imagem: Universidade Federal de Juiz de Fora
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