Durante depoimento prestado na segunda-feira, 19 de maio, ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-coordenador de inteligência da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Adiel Pereira Alcântara, afirmou que houve ações de fiscalização com foco específico em impedir o deslocamento de eleitores do Partido dos Trabalhadores (PT) no segundo turno das eleições presidenciais de 2022. A oitiva integra o processo que investiga o núcleo central da tentativa de golpe de Estado, composto por oito denunciados, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Segundo Adiel, as operações partiram de ordens emitidas por ex-diretores da PRF e tinham como objetivo realizar blitze seletivas e abordagens a ônibus. Ele relatou ainda que havia uma tentativa de transformar a corporação em um instrumento de governo, e não de Estado. De acordo com seu relato, grande parte dos policiais rodoviários federais não apoiava a associação institucional à figura de Bolsonaro, que chegou a participar de motociatas com veículos oficiais e divulgar apreensões realizadas pela corporação.
Outro depoente, o agente de inteligência Clebson Ferreira de Paula Vieira, também prestou esclarecimentos ao STF. Ele atuava no Ministério da Justiça sob a gestão do então ministro Anderson Torres e foi responsável por elaborar relatórios que embasaram as operações da PRF. De acordo com Clebson, o pedido para as análises partiu de Marília Alencar, então responsável pela área de inteligência da pasta, e estavam ligadas ao esquema que buscava dificultar a votação de eleitores contrários ao governo. Ao tomar conhecimento do real objetivo dos relatórios, o agente declarou ter ficado “apavorado”, alegando que um instrumento técnico foi distorcido para justificar ações ilegais. Ele também confirmou que operações ocorreram em localidades com pouco ou nenhum fluxo relevante de veículos.
As oitivas integram o processo que tramita no STF e prevê, até o dia 2 de junho, o depoimento de 82 testemunhas indicadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e pelas defesas. Jair Bolsonaro e os demais réus ainda serão ouvidos em data a ser marcada. O julgamento, que decidirá pela condenação ou absolvição dos acusados, deve ocorrer ainda em 2025.
O grupo, identificado como “Núcleo 1”, teve a denúncia aceita por unanimidade pela Primeira Turma do STF em 26 de março e é acusado de crimes como tentativa de golpe de Estado, organização criminosa armada, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, dano com uso de violência e ameaça grave, além de destruição de patrimônio tombado. Os réus são: Jair Bolsonaro, Walter Braga Netto, Augusto Heleno, Alexandre Ramagem, Anderson Torres, Almir Garnier, Paulo Sérgio Nogueira e Mauro Cid.
Por Eduardo Souza
Com informações: Agência Brasil
Foto: Polícia Rodoviária Federal