Uma pesquisa inédita, divulgada na sexta-feira, 28 de março de 2025, pelo Núcleo de Pesquisa e Formação em Raça, Gênero e Justiça Racial (Afro-Cebrap), revelou o perfil de lideranças negras e indígenas no Poder Executivo. Realizado com apoio da Fundação Lemann e Imaginable Futures, o estudo aponta que, embora a participação de pessoas negras e indígenas em cargos de liderança tenha aumentado de 22% para 39% entre 1999 e 2024, barreiras estruturais e históricas ainda dificultam o acesso a posições de alto escalão. Homens brancos continuam dominando a maior parte dos cargos, com 35% das posições.
O levantamento realizou entrevistas com 20 lideranças autodeclaradas negras, pretas ou pardas, que ocupam ou ocuparam cargos de ministros, secretários, chefias e diretorias entre 1994 e 2024. Os participantes, 10 homens e 10 mulheres com idades entre 31 e 65 anos, vieram de todas as regiões do país. Segundo a coordenadora do estudo, Flavia Rios, socióloga e professora da Universidade Federal Fluminense, as lideranças negras entrevistadas apresentaram alta qualificação acadêmica e profissional, muitas delas com pós-graduações e estudos no exterior, além de amplo conhecimento técnico.
Apesar da alta qualificação, os entrevistados relataram dificuldades relacionadas à ausência de “capital social”. Muitos são pioneiros em suas famílias ao ocupar cargos de gestão, o que os coloca em desvantagem frente a redes de influência predominantes. Além disso, foram citadas situações de constrangimento, como não serem reconhecidos como líderes em espaços oficiais, sendo frequentemente confundidos com seguranças ou porteiros. Tais episódios refletem a persistência do racismo estrutural dentro do Estado.
Os participantes também defenderam ações afirmativas, como cotas raciais, como indispensáveis para promover maior diversidade no serviço público. A expectativa é de que o Concurso Público Nacional Unificado (CNU), com vagas reservadas para pessoas negras, indígenas e com deficiência, possa reduzir as desigualdades. Além disso, foi destacado que o ingresso ao serviço público deve ser acompanhado pela ocupação de cargos de liderança por essas populações, o que ainda é um desafio.
A pesquisa identificou pontos de virada nas trajetórias dos entrevistados, como a criação de assessorias de participação e diversidade nos ministérios, implantadas em 2023, que ofereceram oportunidades de liderança a pessoas negras. Segundo o estudo, essas assessorias são essenciais para discutir e implementar políticas voltadas à inclusão racial e de gênero, garantindo maior representatividade nos espaços de poder.
Por Eduardo Souza
Com Informações: Agência Brasil
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil