“NÃO SE PRESERVA A MEMÓRIA DE UM POVO

SEM O REGISTRO DE SUA HISTÓRIA”

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Havíamos comprado há pouquíssimo tempo um colchão nobre e cheio de pedigree, investimos um dinheiro pesado no bicho, apostando em todas as doces promessas do representante da marca. Tratava-se de colchão importado dos Estados Unidos, estudado pela NASA, tecnologia ultra mega super foguetosa, envolvendo força gravitacional, fofidade testada por astronautas de alta responsabilidade, tantos mistérios no projeto, segredos indevassáveis, fotografias de partículas microscópicas da fantástica espuma, eu fiquei de olhos arregalados, Paulinho ficou de boca aberta, parecia que o tal colchão nos levaria à vida eterna, tanto sono confortável nos traria, não iriamos querer mais acordar.
O vendedor era um verdadeiro poeta, rimava ‘coluna lombar’ com ‘segurança de amar’ e ‘disposição de manhã ao levantar’. Resultado: compramos. E um mês depois estávamos arrependidíssimos. A história da força gravitacional fazia todo sentido, ao deitar éramos sugados pro fundo da cama, ficávamos sem conseguir respirar, era um inferno pra voltar à tona, a noite toda nessa luta inglória, além do que era muito alto, meus pés não alcançavam o chão, e a costura do forro trazia um desenho de bolinhas que ficava impresso na pele, mesmo estando forrado por lençol de trezentos fios.

Decidimos tentar vende-lo. Num restaurante onde fomos, comentamos sobre a nossa idéia e o simpático e bonachão chef se mostrou interessado em comprar o tal colchão. Muito interessado, pra dizer a verdade. Sempre fui desconfiada e achei demasiado o interesse do moço. Mas Paulinho estava louco pra se livrar daquela areia movediça, acabou vendendo pro sujeito pela metade do que tinha nos custado. Dividido em umas dez vezes. Sem assinar sequer uma nota promissória.
( Sou véia, acredito em nota promissória )

Isso foi há uns dez ou quinze anos, mais ou menos.

Até hoje não vimos a cor desse dinheiro. Tampouco vimos o comprador. Desapareceu na poeira do tempo.

Não sei vocês, mas eu fico indignada por tempo indeterminado com gente que age assim.
Cara de pau que chama, né?

Um dia hei de encontrá-lo. Me aguarde, chef picareta, vou lhe fazer um bonequinho vodoo.😡

Assina Monica San Galo. Acadêmica Correspondente. Título: the sand.
Crônica da Academia Caxambuense de Letras desta semana