Fundada em 1859 por Ashbel Green Simonton, a Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) celebra 166 anos de história, com um legado que se estende por diversas esferas da sociedade brasileira, incluindo a educação, a ética e o compromisso com o bem comum. A IPB se destaca não apenas como uma das maiores denominações protestantes do Brasil, mas também por suas contribuições ao longo do tempo para a formação de líderes religiosos, educadores e cidadãos comprometidos com os princípios cristãos e calvinistas.
A História da Igreja Presbiteriana: Raízes e Expansão Global
A história do presbiterianismo começa com a Reforma Protestante do século XVI, um movimento que desafiou a autoridade da Igreja Católica e procurou retornar aos princípios da Bíblia como a única fonte de autoridade religiosa. Dentro desse movimento, três grandes figuras se destacaram: Martinho Lutero, João Calvino e João Knox, cujas ações formaram a base das tradições protestantes que viriam a influenciar o mundo.
João Calvino: A Reforma em Genebra
João Calvino, teólogo francês que exerceu sua principal influência em Genebra, Suíça, é amplamente considerado um dos maiores reformadores da história do cristianismo. Ele introduziu a teologia calvinista, que destaca a soberania absoluta de Deus, a depravação total da humanidade, a eleição incondicional e a perseverança dos santos. Sua doutrina sobre a predestinação, segundo a qual Deus já havia escolhido aqueles que seriam salvos, transformou a Igreja Reformada na principal vertente do protestantismo na Suíça e em diversas regiões da Europa.
Em Genebra, Calvino não apenas reformou a igreja, mas também influenciou profundamente as práticas sociais e políticas, defendendo uma teocracia onde a moral cristã fosse aplicada nas leis da cidade. Sua liderança fez de Genebra um centro do protestantismo reformado, atraindo exilados e teólogos de várias partes da Europa, que disseminaram suas ideias em diversos países, incluindo a Escócia, onde João Knox daria continuidade à obra reformista.
João Knox: A Reforma na Escócia e o presbiterianismo
João Knox, um dos discípulos mais fervorosos de Calvino, foi o responsável por levar a Reforma Protestante à Escócia. Após estudar em Genebra sob a orientação de Calvino, Knox retornou à Escócia e iniciou um movimento de reforma que culminou na fundação da Igreja Presbiteriana Escocesa. Em 1560, com o apoio de parlamentares e da nobreza, Knox ajudou a estabelecer a Religião Presbiteriana como a religião oficial da Escócia, rompendo com a Igreja Católica.
Knox promoveu uma versão do cristianismo profundamente influenciada pelo calvinismo, defendendo a simples autoridade das Escrituras, a autonomia das igrejas locais e a rejeição da hierarquia papal. Sua ação foi decisiva para a consolidação da Igreja Presbiteriana, que se espalhou pelo mundo, com ênfase especial na América do Norte e em outras partes da Europa.
Martinho Lutero: A Reforma na Alemanha
Martinho Lutero, teólogo alemão, é considerado o líder do movimento que desencadeou a Reforma Protestante na Alemanha. Em 1517, Lutero publicou suas 95 Teses, questionando práticas da Igreja Católica, como a venda de indulgências, e defendendo que a salvação só poderia ser alcançada pela fé em Cristo e não pelas obras ou pelos sacramentos. Sua rejeição da autoridade papal levou à criação de uma nova denominação protestante, que viria a ser chamada de Luteranismo.
A teologia de Lutero influenciou de maneira significativa a formação de várias igrejas protestantes na Alemanha e em outras partes da Europa, mas sua abordagem teológica era distinta da de Calvino. Enquanto Lutero defendia a justificação pela fé e a presença real de Cristo na Eucaristia, Calvino enfatizava a predestinação e a soberania absoluta de Deus.
A Difusão do Presbiterianismo no Mundo e no Brasil
A partir da Escócia, o presbiterianismo se espalhou por várias partes do mundo, especialmente para as colônias britânicas e a América do Norte, onde foi fortemente adotado por protestantes emigrantes. Foi através desse movimento missionário que o presbiterianismo chegou ao Brasil, trazido por missionários americanos, como Ashbel Green Simonton, que fundou a Primeira Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro em 1859.
A Chegada do Presbiterianismo ao Brasil: O Papel Crucial de Ashbel Green Simonton
A chegada do presbiterianismo ao Brasil deve-se, em grande parte, ao trabalho de Ashbel Green Simonton, missionário americano enviado pela Junta de Missões Estrangeiras da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos. Em 1859, Simonton desembarcou no Rio de Janeiro, trazendo consigo o legado da Reforma Protestante e a teologia calvinista. Sua contribuição para o crescimento da Igreja Presbiteriana no Brasil foi decisiva, pois ele não apenas fundou a Primeira Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro, mas também foi um dos principais responsáveis pela organização do presbiterianismo no país.
Simonton estabeleceu as bases para a criação de uma igreja autônoma, e sua liderança foi essencial para a fundação de outras igrejas e presbitérios. Ele introduziu a ideia de um presbitério, uma forma de governo eclesiástico onde os líderes da igreja (presbíteros) tomam decisões coletivas. Isso ajudou a consolidar a Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), que se espalhou rapidamente por diferentes estados do país, particularmente em áreas urbanas, onde havia uma maior concentração de imigrantes e protestantes.
A Influência de Missionários e Pastores Brasileiros no Crescimento da Igreja
Embora Simonton tenha sido fundamental para a chegada do presbiterianismo ao Brasil, o crescimento da igreja foi sustentado ao longo do tempo por diversos outros missionários e pastores, tanto estrangeiros quanto brasileiros, que desempenharam papéis cruciais em sua expansão. O movimento presbiteriano no Brasil foi marcado pela contribuição de líderes espirituais que, além de pregar a palavra de Deus, também tiveram um impacto profundo na vida educacional, social e ética do país.
José Manuel da Conceição: o primeiro pastor brasileiro da Igreja Presbiteriana
Após a chegada de Simonton, a conversão e formação de líderes locais foi um passo essencial para a consolidação da Igreja Presbiteriana no Brasil. José Manuel da Conceição é um nome fundamental neste processo. Ele foi o primeiro pastor brasileiro a se formar e a assumir um papel de liderança na igreja, após ter sido formado em seminários presbiterianos. Sua ordenação foi um marco, pois ajudou a igreja a se enraizar na cultura religiosa brasileira, com pastores nativos assumindo responsabilidades que antes estavam em mãos estrangeiras.
Da Conceição, que se tornou um líder respeitado, trabalhou incansavelmente para expandir a igreja em solo brasileiro, ajudando a fundar diversas congregações e a orientar a formação de novos líderes. Sua visão de uma igreja que integrasse os valores locais sem perder a fidelidade à teologia reformada foi crucial para a consolidação do presbiterianismo no Brasil.
George Nash Morton e Edward Lane: missionários americanos que fortaleceram a expansão
Além de Simonton, outros missionários americanos tiveram um papel significativo no fortalecimento da Igreja Presbiteriana no Brasil. George Nash Morton e Edward Lane foram fundamentais no desenvolvimento do movimento presbiteriano no Brasil, especialmente no sudeste e no centro-oeste. Esses missionários trouxeram recursos, ministérios e teologia para o Brasil, além de atuarem como intermediários entre a Igreja Presbiteriana brasileira e a Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos. Morton e Lane ajudaram na organização de novas igrejas, na formação de pastores e na ampliação do alcance missionário da igreja.
Erasmo Braga: um líder do século xx que fortaleceu a Igreja Presbiteriana brasileira
No início do século XX, um dos líderes mais notáveis foi Erasmo Braga, que se destacou como um grande defensor da teologia reformada e das tradições presbiterianas. Braga teve um impacto significativo no fortalecimento da igreja e na organização dos primeiros seminários teológicos, formando várias gerações de pastores comprometidos com os princípios calvinistas. Sua liderança também foi importante para a criação de organizações sociais, educacionais e culturais, com foco no ensino e na ética cristã.
A contribuição de líderes como Eduardo Carlos Pereira, Álvaro Reis e outros
Outros pastores e líderes também tiveram papel decisivo no fortalecimento e expansão da Igreja Presbiteriana no Brasil, incluindo Eduardo Carlos Pereira, Álvaro Reis, Manuel Antônio de Menezes, Delfino dos Anjos Teixeira, José Zacarias de Miranda e Caetano Nogueira Júnior. Esses pastores trabalharam na organização de igrejas, na educação teológica e na formação de novos líderes.
- Eduardo Carlos Pereira foi um dos primeiros a atuar fortemente na organização e crescimento da Igreja Presbiteriana em São Paulo, embora tenha se distanciado da IPB após divergências doutrinárias, fundando a Igreja Presbiteriana Independente.
- Álvaro Reis, por sua vez, foi um defensor da doutrina presbiteriana em um momento em que o Brasil enfrentava grandes mudanças sociais e culturais. Ele foi responsável por fundar o jornal “O Puritano”, uma publicação que ajudava a disseminar os ensinamentos presbiterianos no Brasil, especialmente em tempos de crescente urbanização e modernização.
- Manuel Antônio de Menezes e Delfino dos Anjos Teixeira contribuíram na construção de um sistema de escolas teológicas que visavam formar futuros pastores brasileiros. A formação teológica e bíblica era vista como fundamental para garantir que a liderança local estivesse alinhada com a ortodoxia reformada.
- José Zacarias de Miranda e Caetano Nogueira Júnior também desempenharam papéis essenciais na expansão do movimento presbiteriano, especialmente no que diz respeito à formação de seminários e ao apoio à educação e à inclusão social.
A doutrina Calvinista e os Cinco Pontos do Calvinismo
A Igreja Presbiteriana do Brasil adota os princípios da teologia calvinista, que foi desenvolvida inicialmente por João Calvino e expandida no Concílio de Dort (1618-1619). Durante este concílio, um sínodo da Igreja Reformada foi convocado para resolver as disputas doutrinárias que surgiram após as críticas do teólogo Jacobus Arminius ao calvinismo.
Os participantes do Concílio de Dort formularam o que seriam os Cinco Pontos do Calvinismo, conhecidos pelo acrônimo TULIP, que resumem a teologia reformada:
- Depravação Total (Total Depravity): A doutrina de que, devido ao pecado original, a humanidade é incapaz de buscar a Deus ou fazer o bem sem a intervenção divina.
- Eleição Incondicional (Unconditional Election): A crença de que Deus escolhe, antes da fundação do mundo, quem será salvo, sem considerar méritos ou ações futuras.
- Expiação Limitada (Limited Atonement): A morte de Cristo foi eficaz especificamente para os eleitos, e não para toda a humanidade.
- Graça Irresistível (Irresistible Grace): A graça de Deus, quando aplicada aos eleitos, é irresistível e traz a pessoa à fé.
- Perseverança dos Santos (Perseverance of the Saints): Aqueles que são verdadeiramente salvos perseverarão na fé até o fim.
Esses pontos foram formalizados no Concílio de Dort para defender o calvinismo contra as objeções arminianas e continuar a propagação das ideias de João Calvino. A teologia calvinista tem uma profunda influência na Igreja Presbiteriana do Brasil, sendo fundamental para sua doutrina e prática.
A Igreja Presbiteriana do Brasil e sua contribuição para a educação
A Igreja Presbiteriana do Brasil tem uma história marcante no campo educacional. Uma de suas maiores contribuições é a fundação da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em 1930, que hoje é uma das principais instituições de ensino superior do Brasil. A universidade reflete os valores da IPB ao combinar uma educação de qualidade com os princípios cristãos.
Além da Mackenzie, a IPB tem fundado várias escolas, faculdades e seminários, criando um legado de educação que forma líderes religiosos e profissionais capacitados para atuar tanto no campo secular quanto no religioso. A educação, para a IPB, sempre foi vista como um meio para promover valores éticos e sociais, como a solidariedade, responsabilidade e trabalho duro, princípios que são fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa e ética.
O legado da Igreja Presbiteriana do Brasil
A Igreja Presbiteriana do Brasil, ao longo de seus 166 anos de história, tem sido um pilar de fé, educação e ética. A IPB, com suas raízes profundamente calvinistas, segue os ensinamentos de João Calvino, João Knox e outros reformadores que moldaram o protestantismo moderno. Com a fundação da Universidade Mackenzie e a disseminação de suas práticas educacionais e éticas, a igreja continua a ter um impacto profundo na sociedade brasileira.
Com mais de 703 mil membros e uma presença em todos os estados do Brasil, a Igreja Presbiteriana do Brasil continua a ser uma força transformadora na vida religiosa, educacional e social do país. Ao longo do tempo, a IPB mantém seu compromisso com a formação de cidadãos e líderes éticos, guiados

Por Eduardo Souza
Imagens: Reprodução/Redes Sociais
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