Durante séculos, ele foi tratado como uma das relíquias mais sagradas do cristianismo. O Santo Sudário de Turim, o pano de linho com a misteriosa imagem de um homem supostamente crucificado, foi reverenciado como o manto que teria envolvido o corpo de Jesus após a morte. Mas… e se essa história não for bem assim?
Um novo estudo, feito por um brasileiro, está desafiando essa narrativa com a ajuda da tecnologia. E o resultado levanta uma pergunta incômoda: o Sudário seria, na verdade, uma obra de arte?
O que é o Sudário de Turim?
Antes de tudo, um pouco de contexto. O Sudário de Turim é um pano de linho com 4,4 metros de comprimento por 1,1 metro de largura. Nele, está estampada — de forma impressionantemente nítida — a figura de um homem com marcas de flagelação e crucificação. Por muito tempo, acreditou-se que esse pano teria sido usado para cobrir o corpo de Jesus.
Mas, como em muitas relíquias religiosas, há quem defenda sua autenticidade com fervor… e quem a questione com evidências.
Um brasileiro, um software 3D e uma ideia incômoda
Cícero Moraes é designer 3D, especialista em reconstruções faciais históricas e já ficou conhecido por dar “rostos” a personagens do passado. Mas agora, ele foi além: decidiu investigar o Sudário com técnicas modernas de modelagem digital.
Usando softwares de simulação e modelagem em 3D, Moraes criou dois tipos de corpo: um modelo humano realista e uma versão em baixo-relevo (como uma escultura em superfície plana). O objetivo? Reproduzir digitalmente o momento em que um pano é colocado sobre um corpo — ou sobre uma imagem — e ver qual modelo se encaixava melhor com a imagem do Sudário.
O resultado foi surpreendente.
O pano não bate com um corpo real
Ao comparar as marcas do Sudário com o modelo tridimensional do corpo humano, Moraes percebeu algo importante: as formas não batiam. As dobras, o caimento do pano e o resultado da imagem ficavam distorcidos. Não era o que se esperaria se o linho tivesse coberto um corpo real.
Mas quando ele fez o mesmo experimento com o modelo em baixo-relevo, o encaixe foi quase perfeito.
Segundo ele, isso acontece porque um corpo real cria distorções naturais quando um tecido o cobre e depois é retirado. Já um molde em baixo-relevo, como uma escultura em madeira ou metal, gera uma imagem mais plana e proporcional — e é justamente isso que vemos no Sudário.
Uma imagem criada, não estampada?
A teoria apresentada por Moraes aponta que a imagem do Sudário não teria sido formada pelo contato direto com o corpo de uma pessoa morta. Em vez disso, teria sido “impressa” a partir de um molde artístico embebido com algum tipo de fluido ou pigmento.
Em outras palavras: o Sudário pode não ter sido um manto fúnebre, mas sim uma representação artística de como se imaginava que fosse o corpo de Cristo.
Fé e ciência em rota de colisão?
É claro que essa teoria não vai encerrar o debate. Muitos continuam acreditando que o Sudário é autêntico, e que as tecnologias modernas ainda não conseguem capturar o mistério da relíquia.
Por outro lado, estudos como esse mostram como a ciência pode lançar luz sobre símbolos antigos — mesmo que isso cause desconforto.
No fim das contas, talvez o Sudário não perca seu valor simbólico. Mas saber que ele pode ter sido uma criação artística e não um registro literal abre espaço para novas perguntas. Quem o fez? Quando? Com qual objetivo?
Uma coisa é certa: essa investigação está longe de terminar.
Por Graziela Matoso com informações da Superinteressante/ Foto: Reprodução/Acervo pessoal/Cícero Moraes
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