Ato foi anunciado durante homenagem a equipe que desenvolveu teste rápido para Doença de Chagas; produção em larga escala já é negociada
A cidade de Oliveira, no Centro-Oeste de Minas Gerais, voltará a ser palco da entrega da Comenda Carlos Chagas a partir de 9 de julho de 2026. A premiação, interrompida há cerca de 20 anos, contempla iniciativas de destaque em pesquisa e inovação científica e terá prêmios em dinheiro em cinco categorias. O anúncio foi feito na última quinta-feira (26), durante audiência pública da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
A cerimônia, requerida pela deputada Lohanna (PV), homenageou a equipe de pesquisadores responsável pela criação de um novo teste rápido para o diagnóstico da Doença de Chagas. O chamado “CC Teste” foi batizado com as iniciais de Carlos Chagas, cientista nascido em Oliveira em 1879 e responsável pela descoberta do ciclo completo da doença.
O diretor de Turismo de Oliveira, Sandro de Rezende Lara, afirmou que a prefeitura articula a criação de uma lei municipal para viabilizar a entrega da comenda, prevista desde 1983 na legislação estadual. Há, segundo ele, diálogo com o governo de Minas, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e o Senado, onde tramita um projeto de resolução paralisado desde 2023.
A homenagem da ALMG contemplou a equipe da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), coordenada pelo professor Alexsandro Sobreira Galdino, e representantes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), parceira no projeto. O estudo teve apoio do CNPq e da Fapemig e foi conduzido no campus de Divinópolis, onde a deputada Lohanna também se formou em Bioquímica.
“A UFSJ é uma universidade jovem e o campus de saúde em Divinópolis é mais jovem ainda. Mas, mesmo assim, já tem conseguido resultados expressivos como esse. Vivemos momentos de ataques à ciência e agora é o momento de fazer justiça histórica. E a Assembleia de Minas está em sintonia com isso. Exemplo é ter realizado recentemente o Seminário Técnico da Crise Climática em Minas Gerais.”, disse a parlamentar.
O CC Teste consegue identificar, com precisão, a presença do Trypanosoma cruzi — protozoário causador da Doença de Chagas — em até 15 minutos, a partir de amostras de sangue. O novo método é mais ágil e acessível que os testes hoje disponíveis, que são majoritariamente importados e caros. Segundo estimativas, cerca de 100 mil mineiros convivem com a doença, a maioria sem diagnóstico.
Galdino afirmou que o teste está em processo de licenciamento com uma empresa mineira, ainda não revelada, para produção em larga escala destinada ao Sistema Único de Saúde (SUS). ““Se faltar esse recurso em um ano, pesquisas de longa prazo vão morrer. Algumas iniciativas são mais estratégicas, como essa da Doença de Chagas, e por isso são priorizadas”, apontou. A UFMG contribuiu com cerca de 120 amostras de soro para a validação do projeto.
Presente à audiência, o subsecretário estadual de Ciência, Lucas Soares, destacou a importância da continuidade dos investimentos públicos na área. “Sem recurso garantido, pesquisas estratégicas como essa não sobrevivem”, disse. Ele lembrou que, desde 2022, Minas tem superado a obrigação constitucional de investir 1% da receita anual em ciência e tecnologia via Fapemig.
Pesquisador da Doença de Chagas há quatro décadas, o cardiologista Manoel Otávio da Costa Rocha, da UFMG, ressaltou que o diagnóstico precoce melhora a resposta ao tratamento.
A retomada da comenda — agora com respaldo municipal — busca reafirmar o legado de Carlos Chagas e valorizar o protagonismo científico mineiro frente a desafios históricos de saúde pública.
Por Redação do Jornal Panorama
Com as informações da ALMG
Foto: Willian Dias
Jornal Panorama Minas – Grande Circulação – Noticiando o Brasil, Minas e o Mundo – 50 anos de jornalismo ético e profissional