Quando Clifford “Grandpappy” Gibson nasceu, recém-entrávamos no século vinte. Quando ele morreu, em 1963, tínhamos acumulado boa quantidade de encrencas, mas nem de longe o que nos aguardava. Ele era um músico das cidades, um dos poucos jazeiros que não esticava os olhos saudoso pela vida rural, não tinha a alma influenciado pela colheita de algodão, a adubagem pro tabaco, a condução de uma vida voltada pra agricultura que instaurou, em tantos, um pendor pra observação das estações, dos fazeres lentos, da vida que começava e terminava com o sol indo e vindo. Gibson gostava das cidades e suas gentes. O racismo que ele sofreu foi um racismo urbano, duro, uma segregação mais cotidiana. Apesar de incríveis incursões no mundo dos estúdios, Gibson ganhou a vida tocando nas ruas de San Louis – urbano até os ossos.
A voz dele, para mim, é um complemento para sua guitarra, que soa limpa e cheias de malabarismos e boas finalizações. Improvisando ou não (e ele improvisa demais), Gibson parece pensar em cada palavra antes de pronunciá-la, suas letras falam de amor e da vida, falam de solidão e de algo que não virá.
Por isso, e por não ser tão grave assim, é a voz ideal para analisar um coração partido – tema que não era o preferido do blues, mas tema em que o velho arrasava. Gibson pode até sofrer, mas, antes de qualquer coisa, ele parece pensar sobre onde está e sobre o que o cerca.
Beat you doing it foi uma de suas primeiras gravações e é das minhas prediletas.
If you should find someone to love you, someone to treat you right
If you should find someone to love you, someone to treat you right
You must be kind and lovin’ and don’t run around at night
Fal Azevedo. Acadêmica Correspondente